Para falar sobre as primeiras dermatoses, as mais elementares e frequentes da pele, do cabelo e da unha, a equipe IPEMED preparou uma série de artigos que incluem algumas das dermatoses e tumores mais comuns na prática dermatológica, além de abordar os temas mais recentes em dermatoscopia. Serão 8 posts no blog, divididos por temas. Este é o segundo post da série, escrito pelo Dr. Thomas de Aquino. Aproveite e faça uma boa leitura!
A dermatoscopia é um método diagnóstico não-invasivo de extrema importância no diagnóstico precoce do melanoma. Utiliza-se como ferramenta para avaliar parâmetros morfológicos não-visíveis a olho nu, auxiliando na indicação de excisão de uma lesão pigmentada para o exame histopatológico.
Sendo o Melanoma a proliferação maligna dos melanócitos, constituindo-se um tumor cutâneo de alto poder de enviar metástases para linfonodos, vísceras e para a própria pele, é imprescindível que se faça a sua detecção o mais rápido possível. É, indiscutivelmente, o que mais provoca mortalidade, atingindo todas as faixas etárias, raças e sexos.
Até recentemente, usava-se a regra dos critérios ABCDE para identificação de uma lesão pigmentada suspeita de malignidade, onde a letra A corresponderia à assimetria, a letra B às bordas irregulares, a letra C à presença de cores diferentes, a letra D ao diâmetro maior que 6 mm e a letra E indicando evolução do crescimento da lesão. Com o advento e expansão dos conhecimentos dermatoscópicos essa técnica de exame clínico deu lugar ao exame dermatoscópico com a análise mais detalhada das características da lesão que dificilmente seria visualizada a olho nu.
No diagnóstico dermatoscópico de uma lesão pigmentada suspeita de malignidade, devem ser analisadas as alterações nos parâmetros básicos já estabelecidos:
Corresponde à regra ABCDE pela Dermatoscopia:
A - Assimetria: são traçados eixos perpendiculares entre si, com escores numéricos.
B - Interrupção abrupta da borda da lesão: são traçados 4 eixos sobre a lesão, dividindo-a em 8 octantes. Observa-se a borda da lesão em cada octante e faz-se um escore.
C - Cores: geralmente, no melanoma há um aspecto multicolorido. O fator de multiplicação é de 0,5, podendo chegar a um total de 0,5 a 3,0.
D - Diferentes estruturas: presença de rede pigmentada irregular, estrias, glóbulos, pontos e áreas sem estrutura. Multiplica-se por 0,5, cada alteração nesses componentes, podendo ter um total de 0,5 a 2,5.
Critérios maiores, 2 pontos por critério
Critérios Menores, 1 ponto por critério
A interpretação para uma lesão suspeita de ser Melanoma ocorre quando o escore (soma dos pontos) é maior ou igual a 3.
Corresponde à análise minuciosa dos padrões dermatoscópicos globais e de padrões locais além de critérios adicionais de uma lesão melanocítica:
Quadro altamente sugestivo de melanoma invasivo extensivo superficial. Lesão assimétrica em estruturas e com cores variadas com a presença de véu branco-azulados em vários pontos. Foto: Acervo pessoal do prof. Thomas de Aquino.
Melanoma Invasivo com três áreas de véu branco-azulado ( *asterisco) e área de rede pigmentar alargada atípica (círculo). Foto: Guia Ilustrado de Dermatoscopia – H. Peter Soyer – Giuseppe Argenziano – Rainer Hofmann-Wellenhof- Iris Zalaudek – 2ª. Edição – 2012 – editora Elsevier.
O melanoma pode surgir de uma lesão precedente, como um nevo melanocítico congênito, ou adquirido em 30% ou da pele sã, denominada Melanoma de nevo em 70% dos casos. Toda a pele e mucosas é povoada por melanócitos na camada basal. Abaixo, dois exemplos de melanoma que surgiram a partir de uma lesão névica benigna. São mostrados os aspectos clínicos e dermatoscópicos:
Melanoma com alterações nas estruturas e nas cores
Melanoma com alterações nas estruturas e nas cores
Melanoma Invasivo destacando-se rede pigmentar negativa (branca), com linhas perpendiculares brancas e brilhantes.
Melanoma In Situ (Lentigo Maligno) com linhas angulares poligonais (estruturas romboidais). O melanoma cresce, na maioria das vezes, de forma horizontal ou radial. Há uma tendência inicial de proliferação melanocítica contínua e atípica restrita ao interior da epiderme e a junção dermo-epidérmica. Essa fase de crescimento horizontal corresponde ao melanoma In Situ, também denominado de Lentigo Maligno. Não se observa o padrão de véu branco-azulado nem ulceração.
Lesão clínica com pigmentação excêntrica (Sinal do patinho feio)
Melanoma In Situ, a dermatoscopia mostra ausência de véu branco-azulado e uma rede pigmentar atípica e excêntrica. Foto: Acervo pessoal do Dr. Thomas de Aquino.
Lentigo Maligno – rede pigmentar alargada, blotch periférico e ausência de véu branco-azulado. Foto: Acervo pessoal do Dr. Thomas de Aquino.
Quando o Melanoma muda o seu comportamento biológico, inicia-se o crescimento vertical para a derme, configurando um padrão invasivo.
Melanoma invasivo forma extensivo superficial, com área de regressão e padrão de múltiplas cores com pseudópodos periféricos , glóbulos anômalos e áreas com véu branco-azulados. Foto: Acervo pessoal do Dr. Thomas de Aquino.
O Melanoma ocorrendo nas extremidades configura-se na forma ACRAL. Há pigmentação distribuída grosseiramente nas cristas interpapilares e não nos sulcos.
Melanoma Lentiginoso Acral mostrando aspecto em cristas paralelas, assimetria, glóbulos irregulares, blotches irregulares, véu branco-azulado, ulceração, policromia e vasos atípicos. Foto: (J Am Acad Dermatol 2018;79:831-5.)- Je-Ho Mun.
Ocorre quando existe pouca produção de melanina (oligo-melanótico)
Vasos anômalos com aspecto em grampo de cabelos na periferia, Foto: J Am Acad Dermatol 2006;54:341-4.) Vincenzo de Giorgi.
Vasos anômalos em grampo num Melanoma Amelanótico, foto: J Am Acad Dermatol 2010;63:361-74.) Zalaudek.
Texto elaborado por: Dr. Thomás de Aquino Paulo Filho
Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Residência Médica em Dermatologia pela USP; Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia; Especialista em Hansenologia pela Associação Brasileira de Hansenologia; Título de Especialista em DERMATOPATOLOGIA pelo Comitê Internacional de Dermatopatologia e Professor e Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Dermatologia da Faculdade de Ciências Médicas – IPEMED-AFYA, desde 2009.
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